A letter from May 11th, 2020

Querida Rafa, Hoje você tem 28 anos. Espero que você esteja feliz, satisfeita com a sua vida e com o caminho que você percorreu. Aqui desse lado, eu tenho 23. Estou feliz, satisfeita com a minha vida e com o caminho que percorri. Tenho grandes sonhos e planos para o caminho pela frente, e um deles é nunca perder o entusiasmo por apreciar o tempo que tenho e tudo o que posso aprender e experienciar. Estamos na quarentena do corona vírus. O mundo já mudou muito, eu já mudei muito também. O que mais tenho curiosidade é de saber como o Brasil vai estar politicamente. Nasci no governo do FHC, obviamente não lembro nada. Na época do Lula, o que lembro é de ir às urnas com meu pai e apertar o 45 porque eles apoiavam o PSDB. Depois, acho que por volta da primeira campanha da Dilma, tenho uma lembrança de discutir com a Isa na escola, defendendo as ideias antipetistas que eu tinha ouvido em casa, risos. Lembro do sentimento de impotência e desânimo quando o Bolsonaro foi eleito e meu vô faleceu, em dois dias seguidos. Um pensamento falacioso tomou conta de mim quando soube da morte do meu vô, que foi "não importa quanto tempo de vida terei, mas sim a qualidade desse tempo". Quer dizer, o pensamento não é falacioso, mas eu ter utilizado ele para tacar o foda-se e começar a fumar foi. Desde então, novembro de 2018, o hábito de fumar teve idas e vindas. Parei de fumar novamente vindo para a quarentena em Campinas. Como você lidou com o fumo depois que voltou para São Paulo? E ao longo dos anos que te levaram até esse momento? Espero sinceramente que você não esteja fumando. Se você estiver, lembra do seu vô. Ele que você usou erroneamente de desculpa pra começar a fumar. O exemplo de verdade dele serve para mostrar que você pode parar. Lembra de como ele, após o câncer, estava sempre calmo, buscando motivos para dar risada, saboreava cada refeição, expressava muita gratidão e seguia com tanto afinco todas as recomendações de saúde possíveis, demonstrando o quanto amava a vida. E a vó? Espero que ela esteja bem também. Hoje ela está feliz da vida porque as netas estão passando a quarentena em casa com ela. Nossa rotina inclui almoçar fora todo dia, fazer exercícios de respiração do wim hof e yoga da pri leite, passar horas cada uma em frente à sua tela e conversar sobre como tá sendo bom tudo isso rsrs. E é legítimo o sentimento. Além disso, a vó acorda 6h todo dia, ora no butsudan, toma sol e faz caminhadas, cozinha e cuida da casa, tira a soneca dela da tarde e faz aula de japonês por Skype, e sempre se esforça pra aprender a usar o pc e o celular. Ela ainda tem muita dificuldade, e eu tenho as minhas dificuldades em organização para ensiná-la. Espero que aí no seu tempo, ela já esteja usando bem essas tecnologias, e continue saudável e feliz. Sabe, voltando naquela história sobre a morte do vô, acredito que fiz, sim, valer a pena aquela decisão que tomei no dia que acordei em Camerino, sozinha e chorando por ter sonhado que meu avô estava minúsculo ao me reencontrar no aeroporto, eu segurava ele mas o deixava cair e sem querer pisava nele. Esse sonho me faz querer rir e chorar ao mesmo tempo, mas eu gosto da lembrança de ter acordado, chorado tudo o que tinha pra chorar e ter me reconciliado comigo no final, aceitando a passagem dele e aceitando também um compromisso bem sério comigo mesma pra valorizar o tempo com a vó e com meus pais depois que voltasse da Itália. No final das contas Rafa, acho que a vida é isso. Você precisa ter o hábito de lembrar que o tempo é precioso. Pra finalizar, vou falar sobre as coisas que hoje me colocam fé no futuro, no amor e no sentido da vida. Essas coisas me dão direção, e estou bem curiosa para ver onde elas vão me levar. Me promete uma coisa? Ao ler isso, escreve uma carta pra próxima Rafa do futuro, uma que hoje tá tão longe de mim que nem sei me comunicar com ela ainda. Fala pra ela o que te dá fé no futuro, no amor e no sentido da vida. Bora comparar nossas respostas rs. Ver o crescimento da Júlia me dá muita fé na gente. Ver o quanto a gente tá cada uma no seu processo buscando ser a melhor versão de nós mesmas, ainda que essa visão do crescimento pessoal esteja saindo fora de moda, a essência é o que vale, e vejo que estamos sim criando coisas muito maneiras. Ela me faz admirá-la com os cuidados que ela tem com a alimentação e exercício físico, numa vibe de amor próprio e não de pressão estética, e também com a atitude dela de cuidado e dedicação com a limpeza/organização/estudos. To feliz que ela está estudando psicologia. Hoje, enquanto comecei a escrever essa carta, ouvi ela no telefone com o Amorim jogando na cara que ela não achava legal os pais dele falarem tanto de consciência política e terem demitido a empregada por causa da pandemia. Admiro muito a coragem dela, e ultimamente estou cultivando a coragem dentro de mim também. Estou cultivando a coragem por exemplo ao me lançar em atividades novas, e ter entrado no siga bem caminhoneira semestre passado foi muito bom pra mim. Ter aprendido a andar de skate também foi. Foram alguns dias muito bem aproveitados com a Miyuki, e essa menina é outro pontinho de fé no futuro e no amor. Ontem nosso almoço de dia das mães foi muito gostoso, e Cícero me ensinou um pouco de violão! Aprender coisas novas é maravilhoso demais hihi. To trampando e terminando a faculdade de direito admito que com pouco ânimo. Mas to aprendendo alemão e to me organizando pra começar a dar aulas através da Rede Lillith, e pra isso estou motivada. E minha amizade com a Play tá bem linda. Inclusive foi um desafio nosso escrevermos pro futuro, por isso to aqui agora. Como será que ela está? Hoje ela tá prestando mestrado no exterior. A gente conversa muito sobre espiritualidade e temos visões muito diferentes do mundo, mas que se conectam pelo sentimento. Outro pontinho de fé em nós, no futuro e no amor. Seja absurdamente feliz, é tudo o que desejo para você. Te amo e, esteja onde estiver, tenho orgulho de você. Tem muito mais que eu gostaria de te dizer, mas não vou alongar muito aqui. O gostinho de quero mais é gostoso também, rs.