A letter from Sep 02, 2024

Que data coloco para envio dessa carta, querida eu do futuro? Quantos anos, meses e dias você tem nesse exato momento em que esta lendo esse triste desabafo? Importa? Importa quantos anos eu tenho agora? Será que algum dia vou me sentir útil e com perspectiva de futuro? Fui eu que me auto sabotei para estar me sentindo tão lixo assim? Em que momento simplesmente aceitei ser uma idiota que passa todo tempo livre no celular vendo vídeos idiotas no tiktok, enrola ao máximo para realizar sua obrigações (as vezes nem faz) e sempre acaba se sentindo uma merda quando percebe a realidade em que se colocou? Queria entender em que momento perdi as rédeas da vida e me senti tão inútil. Estou sentindo inveja das minhas colegas de faculdade por estarem seguindo carreira na área, enquanto eu não faço ideia do que vou fazer no futuro. E mesmo não sabendo se realmente quero seguir em alguma área da biomedicina, o fato de me sentir para trás em relação aos demais piora o sentimento de amargura. Todo mundo pergunta o que vou fazer agora que estou para me formar e quando falo que não sei perguntam o que eu gostaria de fazer, qual meu sonho? Meu sonho é ter dinheiro e poder passar o dia inteiro sem fazer nada o dia inteiro, tudo isso sem a culpa de me sentir uma mulher fútil e inútil para a sociedade. Foda-se a sociedade. Mas no fundo, eu ainda queria me sentir bem profissionalmente falando, quero me realizar em algum cargo, quero poder, mesmo odiando o emprego, me sair bem e me destacar em algo. Talvez esteja ai parte do meu sonho perdido durante a trajetória até aqui. Sonho em ter um sonho para planejar, que me faça acordar e ter vontade de ser a melhor em alguma coisa. Hoje em dia tudo que puder levar com a barriga, eu levo. Não sei quando foi a última vez que me esforcei de verdade por algo. Talvez seja depressão? A realidade que vivo hoje é tão fora da curva de tudo que imaginei, no fim das contas tudo que se prometia na escola não se realizou, em outra realidade os sonhos daquela época talvez tenham se tornado realidade. Não consigo parar de me questionar quando tudo deu "errado"? Quando foi que tomei o caminho para o lugar que estou hoje? Qual foi a pedra que me fez desviar para esse lugar asqueroso. Quero poder voltar e chutar ela de volta, talvez esteja fazendo isso na verdade, talvez eu sempre acabe pensando nas pedras que encontrei. Sendo sincera, parte de mim gosta dessa loucura de não saber, gosto dos momentos onde ser impulsiva me leva a lugares novos, totalmente fora da curva. Espero que um dia eu consiga conciliar estar fora da curva com sobrevivência. No momento, estar sempre sentindo dó de mim e procurar novos caminhos (fáceis) é humilhante. Poxa, enquanto tem pessoas da minha idade começando carreiras, se esforçando para ter um futuro, eu estou aqui, me colocando no papel de coitadinha e otária de novo. O que eu faço? Meu Deus, não sei. EU REALMENTE NÃO SEI. NÃO SEI QUEM EU SOU. NÃO SEI QUAL MEU SONHO. NÃO SEI SE ALGUM DIA EU CONSEGUIRIA SER MELHOR DO QUE EU SOU HOJE. Parando para analisar, o lugar onde me encontro é resultante de outras atitudes fora da curva que tomei, nossa que otária, acabei de perceber que, na verdade, não são atitudes fora da curva, são todas atitudes de início de vida. Foram todas primeiras atitudes que tomei como "adulta". Por isso, que talvez me sinto tão perdida, foram escolhas de adultas tomadas por alguém que ainda não tinha se vivido nem como adolescente ainda. E é nesse momento que pensamentos autocríticos surgem: "muitas pessoas tiverem realidades bem mais difíceis e ainda assim conseguiram acertar nas escolhas de adulto", "fulano conseguiu ser alguém vivendo os mesmos problemas que você". O problema sou eu, eu sou uma folgada covarde. Espero que você esteja bem. Não sou uma folgada covarde, estou apenas vivendo minha realidade de alguém que ainda não sabe o que vai fazer, mas que ao mesmo tempo tem preguiça, falta de motivação e um medo GIGANTESCO de fracassar. Falei para mim mesma e para todos ao meu redor que pararei de me torturar vivendo com a cabeça no futuro, esse que estou com tanto medo de fracassar, e viver o agora, infelizmente o viver agora para mim é tão preguiçoso, não sinto vontade de tomar "pequenas atitudes" para construir "um grande futuro". Por isso sinto medo do futuro, não estou plantando sementes para garantir meu futuro, pelo menos não da forma que a sociedade diz que precisamos plantar, de vez em quando jogo uma semente em algum lugar e torço para crescer. Por isso não consigo parar de temer o futuro, justamente por ele estar parcialmente na minha mão, como pode alguém que não faz ideia do que quer tomar algo tão importante como o futuro? Tem regra? Viver tem regra? Ser adulto tem regra? Eu realmente preciso me sentir assim? Perdida, fracassada e inútil? A maior perdedora. Sei que estou exagerando, mas tenho medo de algum momento isso não ser mais um exagero, o tempo todo quero fugir para algum lugar, pedir ajuda para alguém, tentar me agarrar em qualquer coisa que me passe firmeza, mas acho que ao mesmo tempo sou exigente demais para isso, ainda tenho aquele desejo de me suceder em algo. Talvez, tudo não esteja perdido por isso, talvez essa seja a sementinha mais importante agora, essa que estou maturando dentro de mim para quando for a hora certa poder plantar ela, e se necessário plantar de novo e de novo... E se algum dia eu decidir que não quero mais os frutos dessa sementinha, tudo bem! Nunca vai ser o fim do mundo recomeçar. Eu realmente posso viver o presente sendo ele preguiçoso? Posso parar de viver nesse futuro falido que nem mesmo existe? Espero que dê certo.