A letter from Mar 16, 2025

Time Travelled — 6 months

Peaceful right?

Dear FutureMe, Castelos e Faxinas Essa semana foi intensamente rotineira. Rotineira pois em geral não houve nada fora do comum, entre os deveres, afazeres, trabalhos, escola, horas marcadas e check list para completar. Entretanto já pude observar em outros momentos, em algumas das crises passadas, que quando eu estou perto de menstruar ou de fato menstruada, algumas coisas mu*** de mim. Quando é época de lua cheia então, nem sei explicar o porque de tanta emoção. Mas sinto em mim escorrer todo um oceano, me sinto mais sensível, as lagrímas despejam com lembranças, as vezes não sofridas, mas dóidas de saudades, saudades de momentos que não retornam mais ou pessoas que já não mais estão presentes fisicamente, porque em memórias os sinto tão vivos quanto todo o resto. Minha subjetividade está em um fervor, como as marés altas da beira mar. Rebatem forte contra as pedras das beiras, arrebentam no ar em milhares de partículas de liberdade. Saí para pedalar na beira mar, em uma noite de pós lua cheia. O mar estava bem agitado e me molhava ao arrebentar contra as pedras, me sentia abençoada por isso, por ali estar, por fazer parte daquele ritual, por sentir que minhas águas são muito maiores do que eu mesma. Desde o começo da semana me sentia angustiada, alguma coisa ou algumas que me incomodavam ruminavam em minha mente, como flashs de comerciais indesejáveis. Comecei a pensar sobre o quão distante Gabriel estava e Gabriel não fazia mais isso, ou não me amava mais como em tal momento amou ou como nossa *********** é inconstante e diferente do que antigamente em que tudo era intenso demais, até um tanto exagerado. Ao confrontá-lo sobre a nossa relação ele de pronto rebateu, se defendeu, me agrediu de forma inconsciente, mas desejante obviamente, perguntei pra ele sobre como estava a vida dele e como não ter respostas, ou sentir o seu desinteresse me afeta e me angustia, novamente esse mesmo ponto, foi quando ele me disse “não te interessa”, “uma pessoa com maturidade entenderia que..”, “ a gente sempre precisa discutir sobre nossa relação?” “isso é tudo o que eu tenho para dar no momento” , entre algumas frases já comentadas anteriormente. No início aquilo incomodou, mas logo um estalo dentro de mim surgiu, pois ao mesmo tempo que machucava era libertador, pois de fato não me interessava, ou porque estaria me interessando ? Pensar em Gabriel ou no que ele faz ou deixa de fazer não seria uma tentativa de não pensar nas minhas próprias angustias ? As aulas tornam impossível fugir de mim, pois a cada tema abordado há algum link com minha própria existência, pois sua humana, carrego comigo a história de tudo que veio antes de mim e tudo que passou pela minha própria historia para que eu me tornasse eu. Após alguns soluços e choro, eu disse que sentia falta dele, e que entendia e daria o espaço que ele pedia. Na aula, no dia seguinte, tive a confirmação, sim. Foi totalmente carência da minha parte, o que eu tava projetando nele? O que estava me faltando ? Porque eu pensava na falta da minha infância quando pensava na falta dele, se agora já sou adulta ? Porque não consigo lidar com a solidão dele juntamente com a minha ? Na própria noite deste dia, eu pedi desculpas pela minha carência, disse que estava com saudades de ter momentos legais com ele e que iria tentar ajustar minha comunição. Porque é tão difícil perceber as minhas angustias como sintomas? É como olhar no espelho e não enxergar meu reflexo e sim uma imagem irreal. De uma forma analógica, claro, eu me enxergo ao me olhar no espelho mesmo que seja literalmente apenas algumas vezes. No momento da discussão ele também comentou “nós temos um relacionamento sólido, de parceria, feliz e estável” e isso ressou dentro de mim poderosamente, como não posso me permitir viver algo sólido, feliz e estável sem que o outro me afirme isso ? Percebo minha necessidade de validação, do que considerar imperfeitamente capaz ou não merecedora, não sei, tirando o drama talvez seja apenas a minha incapacidade de ter uma vida mais ou menos, de ter algo estável, sem muitos contratempos, confiar genuinamente no outro, em suas ações e promessas. Não é como se a falta do casamento, fosse ser sinônimo de fragilidade, o que de fato me falta? Será que sou eu então que me deixei consumir pelo tédio de observar os outros para fugir de mim mesma ? Seria mais complicado ainda então, porque é no outro que eu me encontro comigo mesma, talvez minha falta de respeito pelo vazio dos outros, seja a falta de respeito com meus próprios vazios. Mesmo sabendo que não é possível enche-los, ou restaurá-los. O choro não esvazia minha tristeza, mas alivia o acúmulo de mágoas. Ameniza as emoções que beliscam a alma, mas só trazem calma e clareza, quando é possível escutá-las.

Load more comments

Sign in to FutureMe

or use your email address

Don't know your password? Sign in with an email link instead.

By signing in to FutureMe you agree to the Terms of use.

Create an account

or use your email address

You will receive a confirmation email

By signing in to FutureMe you agree to the Terms of use.

Share this FutureMe letter

Copy the link to your clipboard:

Or share directly via social media:

Why is this inappropriate?