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Querido José Victor (do futuro),
Oi. Passando aqui mais um ano de forma canônica e tradicional (tradição de 2 anos, cu) para falar um pouco de como foi o ano de 2024 e quais serão as metas para o 2025. Então só nesse primeiro parágrafo eu sinto a necessidade de falar comigo mesmo em terceira pessoa como se fosse a coisa mais normal do mundo. Daqui da frente vai ser algo mais pessoal mesmo.
Eu acho muito massa ter criado essa tradição porque eu sinto que o tempo passa muito muito rápido. E não do jeito clichê, sabe? Como se eu não soubesse que os anos passam e tudo mais, mas do jeito que escapa pelas minhas mãos de uma maneira que não tem muito que fazer, de um jeito que quando morde, assopra, tudo ao mesmo tempo. E fico muito bugado quando paro pra pensar nisso, quando olho e vejo onde minhas decisões me levaram.
Esse foi o ano da autodescoberta REAL. Não porque ela é minha artista favorita, mas Taylor Swift tem uma música muito boa chamada “Nothing New” (com a diva Phoebe Bridgers) que fala que como uma pessoa pode saber tudo aos 18 anos e nada aos 22 e eu fiquei muito preso nisso esse ano. Eu lembro exatamente quando eu fiz 18 anos: pandemia, novembro, fim do ensino médio quase. Alí eu achava que não tinha muito o que fazer, porque o mundo tinha parado, não tinha mais tanta interação social e achava que não podia mudar muita coisa. Além disso, achei que seria um grande mousse fazer um post no instagram com várias fases minhas (?) como se fosse saber quem eu era de verdade aos dezoito (spoiler: não sabia). E isso vem tomando boa parte do meu tempo e do meu juízo porque NADA (ou pouca coisa) do que eu queria naquela época eu quero agora. E mais: EU NÃO ME IDENTIFICO COM AQUELE JOSÉ VICTOR. E 21024 veio me mostrar que esse caminho seria bem mais longo pela frente, e nem sempre fácil.
Não lembro se escrevi isso na carta de 2023, mas eu queria muito contar para meus pais sobre minha ***********. Tipo muito mesmo, tinha uma necessidade física e mental muito grande em precisar contar pra eles sobre isso. E era um sentimento tão agridoce que eu não gostava. Eu não sabia o que eles poderiam dizer e como um bom pessimista que sou, já imaginei milhões de cenários ruins para aquela situação. Depois de passar três meses com eles, após o encerramento do segundo semestre da faculdade, vi que não dava mais. Não dava mais para ficar guardando isso pra mim e ficar com o juízo fudido por causa disso. Mas aí vem uma das reviravoltas da minha vida: EU NÃO SOU BI (*som de bomba*).
Foi muito louco esse processo de se descobrir com outra *********** porque é como se eu tivesse que sair de mim para poder enxergar por fora situações que eu estava vivendo. Eu gostava muito das meninas que cheguei a ter algum tipo de relacionamento ou atração, mas não sabia que ali não era o sentimento de amor romântico, e sim amor de amigo mesmo, ou atração, sei lá. Mas eu não queria me relacionar com elas, que loucura. Claro que se tivesse algum acompanhamento psicológico teria entendido isso mais rápido e as sequelas disso não seriam tantas. Acredito real que ter me descoberto um pouco mais tarde que outros meninos **** foi foda, queria muito ter vivido outros relacionamentos já sabendo minha *********** de cara. Mas vi aquilo como um processo, e precisei contar desse processo para quem conviveu comigo por uma vida toda né. E foi num sábado, com escondidinho de frango e coquinha gelada (era coca?), que contei para meus pais e irmã que gostava de meninos. E não poderia ter ficado mais feliz com essa decisão. Eles me abraçaram, choraram e falaram que nunca iam deixar de me amar por causa disso. Fiquei muito feliz por tudo isso e por ter tido a coragem de abrir meu coração assim pra eles. E também entendo que ainda é um processo, eles ainda não me viram namorando, não me viram sendo eu realmente como sou com meus amigos por exemplo. Mas acredito muito mesmo que esse próximo será de mais carinho e diálogo ainda, farei de tudo para deixar eles mais a par do meu mundinho lgbt.
Outra auto descoberta por com certeza foi me ver enquanto uma pessoa preta na sociedade. É claro que eu já sabia muito bem a cor que eu tinha, minhas origens e o que aquilo refletia em mim. Mas ter a oportunidade de participar do grupo da KUYA sobre letramento em design: gênero, raça e classe foi um dos ápices do ano. Foi muito massa poder falar das minhas dores, expor meus sentimentos e se sentir acolhido e compreendido. Aprender sobre esses temas me fez com certeza mudar toda uma visão de mundo, ver as coisas por outro prisma e poder falar sobre isso com propriedade. Foram um dos melhores momentos da minha vida com plena certeza e espero que possa discutir isso por um bom tempo.
Acredito também que estudar e me entender mais sobre mim me fizeram questionar minhas crenças. Não sei se acredito mais naquele Deus cristão. Naquele Desu problema que me odeia porque eu sou viado e amo outros homens. Não comento muito disso com meus pais, mas quero que eles saibam disso em um futuro próximo e que isso não gere uma grande algazarra (talvez aconteça).
E acredito que esses dois acontecimentos me muniram de uma autoconfiança que a tempos não sentia. Quem olhar as minhas fotos do começo do ano jamais saberá o que se passou comigo durante todo o ano de 2024. Só o fato de assumir meus cachos já me tornou uma nova pessoa. E esse fato é fruto de passado muito triste, onde eu não sabia qual era a textura do meu cabelo e nem como cuidar, além de ter toda uma pressão social de que deixar cabelo crescer é feio, discurso esse alimento pelo racismo estrutural da sociedade que não deixa que pessoas expressem quem são e nem suas ancestralidades. além do fato de dizer deixar o cabelo grande é coisa de viado. Ora, se já sei que sou preto e sou viado, por que terei medo de mostrar isso para as pessoa? Vão ter que engolir, nem que seja com farinha.
Mas um tópico que foi extremamente sensível esse ano foi o meu lado amoroso. Eu assumi realmente a minha personalidade pessimista e fiz disso meu ano amoroso. Eu tentei, não poderão dizer que não, mas puta que pariu, NINGUÉM CARAIO? Nossa. E é foda depois de ganhar uma bomba de autoconfiança não ficar triste quando uma coisa dessas acontece. Muitas coisas passaram pela minha cabeça esse ano, como não me sentir desejado ou não desejar certas pessoas por motivos aleatórios (ou nem tanto). Isso que é o complicado quando se estuda racialidades: saber que existem pessoas que não desejam você pelo simples fato de você ser preto. É muito triste mesmo. E aí eu fui murchando aos poucos, investindo cada vez menos tempo nesse setor da minha vida e resistindo firmemente a novas formas de me relacionar. Não com amigos, porque diga-se de passagem que esse ano eles me aturaram como nunca. Os de perto, os de longe, os não-tão-amigos, todo mundo ouviu um pouco. Isso que me tranquiliza, saber que tem pessoas massas do meu lado que me impulsionam para a frente e me mostram visões diferentes de quem está na merda. Mas como meta de 2025 eu quero simplesmente tentar. Tentar conhecer pessoas diferentes na vida real, tentar outras estratégias de aproximação, tentar e tentar e tentar de novo. Queria sim um namoradinho para esse próximo ano, mas o primeiro passo será me conhecer (um pouco mais) e conhecer onde estou no mundo. Pode e vai dar errado, tenho certeza, mas não quero ficar me prendendo ao que poderá acontecer. Quero me prender ao presente. O meu coração de gelo será derretido aos poucos, eu confio.
Ufa, deu disso. Então, vamos falar de ufc e suas pérolas. UMA GREVE UFC, SÉRIO MESMO? Queria viver o máximo de experiências possíveis dentro do meio acadêmico, mas não foi isso que pedi não kljkkkkkk. Tirando essa greve maluca que tomou três longos meses e que eu saberia que duraria tudo isso, foi um ano muito frutífero para mim nessa instituição. Apresentei trabalhos babadeiros, que me senti realmente um designer fazendo tudo aquilo. VIREI MONITOR AAAAAA e isso estava nas minhas metas de 2024, então fiquei muito feliz de poder ter tido essa experiência e ser uma boa experiência. Entrei também no PIBIC e me senti muito inteligente por ter passado, agora sou um (quase) pesquisador e acredito muito que terei um espaço maior nesse mundinho acadêmico, caso o futuro me leve para essas bandas.
Mas ser adulto no meio disso tudo foi complicado viu. Ter que saber lidar com pessoas e comigo mesmo foi um dos maiores desafios desse ano. Acredito que minha saúde mental ficou bem machucada nesse ano, não só por traumas antigos, mas também por novas experiências. Era foda chegar em casa cansado e ver que minha descarga tinha quebrado (?) ou ver que precisaria me sobrar para pagar uma conta. Não deixei que as últimas semanas do ano estragasse minha felicidade, mas foi difícil. Ter que correr atrás de emprego e renda não está sendo fácil. Ainda estou preocupado com minhas contas futuras, sem contar o fato de não ter conseguido ir visitar meus pais nesse recesso de natal e ano novo. Me doeu muito mesmo, porque isso nunca tinha acontecido, mas preocupar eles mais ainda não seria interessante. Então segurei (e ainda estou segurando) um pouco da minha tristeza e do meu choro para não deixar quem eu amo triste. 22 é o número da besta mesmo.
Tendo em vista tudo isso, me sinto um lutador vencedor. Completei meu primeiro ano morando longe de casa, me dei bem na faculdade, trabalhei com coisas diferentes, conheci pessoas diferentes, lugares, comidas, bebidas. Em resumo, tive novas experiências, e era isso que queria pra esse ano. E tô muito feliz por isso. E jamais imaginaria que seria um pouco mais low profile (quem imaginaria isso?)
Antes que acabe, algumas aleatoriedades deste ano: duas descargas minhas quebraram, deixei meu cabelo crescer e mudei o corte (já falei mas quero repetir), fiz um instagram que postava fotos diárias, comprei fones novos que amo muito, mudei minha personalidade para ecobag, iniciei rotina de skin care, ouvi músicas novas e estilos novos também, saí mais que ano passado, falei mais de coisas pessoais com meus amigos.
Entre trancos, barrancos, desemprego, mouse quebrado, semestre no meio e necessidade de terapia, estou vivo. E só isso já garante um novo ano para fazer outras milhões de coisas que desejo fazer. Que 2025 me traga muito mais confiança, amor, juízo, diversão e força de vontade. Minhas metas seguem muito parecidas, mas quero dessa vez fazer as coisas com mais calma e no meu tempo, sem muita loucura. Ainda pretendo aprender libras, cubo mágico e novas línguas. Que não desista de fazer duolingo todo dia. Quero pintar o cabelo e fazer uma tatuagem. Quero beijar na boca e transar. Quero continuar conectado com meus amigos e meus familiares. Quero ouvir muita música. Quero sair mais, conhecer novas pessoas e (quem sabe) viver um romance, nem que seja bem rapidinho.
Quero rir no final de 2025 e fazer tudo valer a pena. Será que ainda serei o mesmo? O futuro à deusa pertence.
Com carinho,
josé victor :) (minha identidade visual desse ano: sorrisinho e cor vermelha)
Maracanaú, 31 de dezembro de 2024.
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