A letter from Nov 17, 2024

Oi, Calebe do futuro. Queria falar algumas coisas para mim mesmo. Há alguns dias atrás, anteontem, eu vi um filme brasileiro muito bom, se chama "o Homem do Futuro", o qual, inclusive, foi a Karina que recomendou, nesse filme, como tu deves lembrar, um cara amargurado com a vida volta no passado para refazer um acontecimento de sua vida e "melhorar" ela (o que não dá muito certo, mas enfim). Em uma das cenas do filme, o protagonista canta "Tempos Perdidos", do Legião Urbana, junto da pessoa que ele gosta e isso me passou uma energia tão boa, ao mesmo tempo me veio uma sensação, novamente, tão melancólica. Eu sinto que eu preciso viver mais. Sinto que eu tenho muito pouco nesse mundo e que deveria ter vivido mais, eu queria ser mais do que sou (pois, todos me veem assim). Eu tenho olhado para todos e visto algo especial sempre, contudo, tenho tido muita dificuldade em fazer isso comigo. Tanto que esse período agora não é a primeira vez que eu tento me mudar. Eu queria tanto ser outra pessoa, ao mesmo tempo eu gosto tanto de ser eu. É uma sensação estranha. Tem vezes que eu penso: "o erro vem de muito tempo atrás, desde a época do Ensino Fundamental que eu não fiz isso". Eu tenho 18 anos e estou me construindo agora, mas eu não sei como fazer isso. Eu queria tanto amar alguma coisa. Poder me definir em algo. Que as pessoas olhassem e dissessem "ele é isso" e eu pudesse concordar com elas sem ter medo de alguém dizer "você não é isso". Em partes essa minha insegurança é: pelo fato de eu sentir uma desconfiança tanto dos meus pais e irmão comigo (e também minha própria). Cara, eu entendo a forma que eles me criaram, tanto que hoje eu sou alguém que não dá problemas praticamente (e se sente mal quando o faz), mas eu queria tanto ter a confiança deles. Eu me sinto tratado como uma criança ainda. Como alguém que precisa ser protegido. E isso é uma sensação estranha pelo fato de que, se por um lado eu discorde disso e queira muito me mudar para não parecer com isso, por outro eu reconheço as minhas incapacidades, eu queria tanto ser mais do que isso (queria ser o que as pessoas tanto dizem que eu sou mas que eu não consigo ver). Mas eu me sinto muito burro, por ter tanto, me sinto tão ingrato por ter tanta coisa (não materialmente né), ter um irmão, uma mãe e um pai presentes. Ter internet, ter o meu próprio celular (que eu comprei depois de ganhar um concurso de redação), ter amigos que eu posso confiar, ter uma casa, ter comida. No entanto, isso me deixa tão mal. Eu não sei ao certo também. Queria definir mais facilmente que sou, é até difícil descrever o que eu sinto aqui. Um pouco de inveja, talvez, um pouco de rancor, talvez, um pouco de desprezo, talvez, um pouco de negatividade, talvez, um pouco de ignorância, talvez, um pouco de raiva de mim mesmo. Hein... repense melhor isso. Tu ainda tens muito tempo. Não se preocupe com o passado, "temos todo tempo do mundo". Tu não precisa ser o maior de todos. Somente precisa ser o maior para as pessoas que são importantes para ti.