Uma carta de 15 de agosto de 2024

Querida Rapha. Hoje é mais um dia em que estou lutando contra a minha ansiedade. Sim, mais uma vez ela, que chega sorrateira, que vê uma pequena brecha e por ela se estreita até me alcançar outra vez... Me pergunto quando esses pesadelos da mente terão fim, mesmo sabendo que o fim é inalcançável, em razão da ausência de cura para o que tenho, e não acredito que tão cedo haverá uma, se é que um dia haverá... E o problema é que ela nunca vem sozinha, ela traz suas amigas, a depressão, o border e a bipolaridade, e todos dão as mãos e giram em torno de mim cantando cantigas macabras, dizendo-me que nunca serei amada de verdade e que todos os afetos que recebo são efêmeros e mais cedo ou mais tarde serei apunhalada e abandonada por todos ao meu redor; dizem que eu não sou suficiente, mesmo vendo minhas mãos sangrando tentando dar conta de tudo; dizem que eu jamais serei bonita o bastante, e que meu corpo é repulsivo; dizem que eu sou amaldiçoada por ter a cabeça que eu tenho, mas que não adianta tentar fugir, porque eles sempre estarão comigo, que para eles eu sou suficiente: suficientemente burra para acreditar em suas mentiras; dizem que com eles não preciso temer ficar só, porque eles sempre estarão comigo e eles amam me fazer de otária; eles dizem que eu posso sonhar em ser o que quiser, mas nunca poderei acordar para realizar; eles dizem, enfim, que há de chegar o dia em que eles vão me levar para o outro lado... Você bem sabe do que estou falando, não é mesmo? Mas, aqui estou eu mais um dia tentando seguir em frente apesar disso, a cada minuto que passa a minha mente fica mais ensandecida e eu me sinto mais perdida, eu quero chorar, quero gritar, quero correr mas nem sei pra onde, eu quero que isso pare, mas só continua, e agora vou eu outra vez em busca de um maldito maço de cigarro porque novamente estou rendida... Não sei o que esperava com essa carta, queria que colocar isso pra fora tivesse me feito sentir melhor, mas não fez, o meu coração está apertado e eu estou desesperada, e não tem absolutamente NINGUÉM hoje que poderia me ajudar, nem uma mísera alma filha de uma puta não está aqui pra me ajudar hoje, assim como na maioria dos outros dias, e eu estou me imaginando deixando este mundo para trás... As pessoas dizem para focar no que há de bom, e olha, realmente, pela 1ª vez na vida em 25 malditos anos, eu tenho coisas boas para pensar sobre e agradecer, no entanto, o que essas pessoas não entendem é que isso não basta, a dor que eu sinto por dentro é tão intensa e está tão enraizada dentro de mim que mesmo quando penso em algo bom, às vezes é como se nem estivesse pensando at all, porque eu me sinto constantemente desconectada de mim mesma, eu vago por aí como um corpo vazio, zumbificado, sem uma alma dentro, a vida não parece mais real, e eu digo "mais" como se algum dia tivesse parecido, mas desde que me conheço por gente eu me sinto assim, fora de mim, fora de órbita, eu não me alcanço, quando penso que encontrei, logo me vejo afastando-me de novo e não há absolutamente nada que eu possa fazer para impedir isso de acontecer, e as ******** de alegrias se esvaem, como se transformassem-se em grãos de areia que escoam por entre meus dedos e eu não consigo agarrá-los outra vez. Apesar disso, há dias bons, e daqui dois dias eu deveria viver mais um dia bom, iniciando uma nova fase que deveria ser eivada de dias bons, mas será que meus cavaleiros do apocalipse me permitirão viver isso? Será que eles estão dando as caras assim porque estão com medo de que eu os vá abandonar, como eles querem me fazer pensar que acontecerá comigo? Digo a mim mesma então que preciso aguentar só mais um dia, e lá se foram 9225 dias. Só isso, hein? hahaha que piada de mau gosto, eu estou cansada de aguentar, e por que eu ainda aguento? Acho que as respostas eu nunca encontrarei, enquanto isso, torço para que eu sobreviva mais um dia até que meus demônios me deixem, ou que tenha coragem para fazer cessar todos os meus dias, não sei, não sei mesmo, só queria que essa dor passasse, but she never goes away. Vamos ver daqui um ano como você se saiu. Boa sorte. Stay strong.