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Querida Futura Eu,
Estamos vencendo um mundo doente.
A pandemia nos revelou, mais que a doença da COVID-19, as incertezas e mazelas que permeiam nossa sociedade brasileira.
Alguns de nós nos unimos em esforços sem precedentes para melhorar todas as vidas em volta. Médicos, enfermeiras, auxiliares, motoristas, muitos se empenharam em salvar muitas e muitas vidas.
De outro lado, um presidente que simplesmente foi contra tudo isso. Que atrapalhou o quanto pôde a chegada das vacinas. Que tentou a todo custo nos empurrar medicamentos que não funcionam e jamais irão funcionar para curar essa doença terrível, que levou tantas vidas.
As mais de 618.000 mortes, até a presente data, jamais serão apenas números.
São pais, mães, irmãos, irmãs, avôs, avós, amigos e amigas, pessoas que significavam muito para quem as amava. Eu quase perdi primos e tios. Em volta, vi vizinhos morrerem sem conseguir respirar. Ficar em casa, com um inimigo invisível em volta, é sufocante. Pior ainda para os que não conseguiram ficar, que tiveram que se armar com a coragem, luvas, máscaras e proteção facial, roupas especiais, descartáveis.
A saúde mental nunca foi tão demandada. Pessoas esgotadas por todos os lados. É como se você olhasse ao redor e visse corpos em uma guerra. Todos lutando todos os dias para não caírem, para não serem mais um corpo caído no meio do caos. O desaparelhamento do Estado é ultrajante. Postos de saúde e hospitais lotados. E mesmo na rede privada, tudo estava lotado. Era proibido adoecer.
Da metade do ano pra cá, a vacinação começou a engrenar. Começamos a ter novamente alguma esperança. Pessoas voltaram, aos poucos, a sair nas ruas. Eu mesma consegui viajar, para São Paulo, um dos primeiros lugares a ir contra o Governo Federal e onde começou a maior distribuição de vacinas. Ainda estamos com medo. Novas variantes continuam aparecendo e desafiando a ciência. A Ômicron fez com que parte da Europa começasse a fechar novamente. Ontem, a OMS disse que uma nova tempestade está chegando.
No Brasil, vejo que essa tempestade não está assustando as pessoas. Não sei se é a ânsia de voltar a viver, a proximidade do Carnaval. Sei que a maioria não parece ter medo. Eu tenho certeza de que, quando começa a vir da Europa, é porque uma hora vai chegar aqui, sem dúvidas. Já temos casos da Ômicron entre nós. Porém, vejo subcelebridades e várias pessoas promovendo festas e encontros como se não houvesse amanhã.
Mês que vem tomo a terceira dose da vacina. Espero que dê tempo. Que meu organismo consiga me defender dessa nova onda. E não sabemos quantas mais variantes poderão existir, porque as pessoas não param. O ser humano não foi feito para ficar em isolamento. Compreendo isso. Mas entre ser isolada e continuar viva, prefiro continuar viva. Quero ter esperança de que tudo isso um dia acabe e a COVID-19 vire mesmo só uma "gripezinha". Mas a ameaça às nossas vidas é real e contínua.
Futura Eu, se sobrevivermos a essa guerra híbrida, eu espero com certeza estar em um Brasil melhor. Onde tenhamos mais qualidade de vida e empregos, que a gente saia de tudo isso com a garantia de que vá encontrar um cenário em que as pessoas consigam reconstruir suas vidas com dignidade. Sem a fome, sem preços absurdos nos mercados, conseguindo pagar as contas e com melhor qualidade de vida. Que a gente possa voltar, mais do que viajar, mais do que conseguir nos reunir em grandes públicos, a sonhar com abraços, com afetos. Porque muitos deles não voltarão mais.
Então, mais do que nunca, te relembro esse passado para que você dê mais valor ao que está vivendo hoje. Não sei em que ponto estará; entretanto, lembre-se que houve um período da história do Brasil em que nos afundamos nesse buraco negro. Um dia, vamos repassar tudo isso às novas gerações. Seremos sobreviventes. Pessoas que insistiram e não desistiram, apesar de tudo. Resistência e resiliência. É o que desejo que sempre tenha dentro de si.
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