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A primeira coisa que me impedi de fazer, antes de escrever isso, foi de me referir a eu mesmo como “você”. Não só porque é cringe (e cringe é ruim! Queimem os cringes), mas porque me distancia e me despersonaliza como se estivesse evadindo das responsabilidades emocionais disso (sentir também é cringe).
Há alguns meses eu ando ouvindo o Everywhere at the end of the time. Poderosíssimo. Fica pra outro dia, mas você está ouvindo agora o estágio 1.
Anteontem você terminou com a Carla, pela sei lá qual vez. Parece definitivo. E por mais que todo término seja ruim, fica um sentimento de prejuízo. Foi bem tranquilo! Não foi prazeroso, mas com certeza não foi péssimo. Mesmo assim não parece que as coisas estão certas.
Ontem a minha tia Sônia morreu. Não conhecia muito bem ela, mas me surpreendi como minha mãe se preocupou com isso. Descobri que ela tinha sido escrivã, ajudou a inaugurar a primeira delegacia da mulher no brasil. A segunda filha mais nova.
Antes de ir pro funeral, eles estavam conversando sobre a possível necessidade de sacrificar a safira. Minha mãe acha que ela não está bebendo água e anda muito parada, o que não é verdade, eles não entendem tão bem ela, assim como minha mãe (felizmente) consegue entender o Zuli. Ela tá velha e cansada, mas quando ela quer ela faz as coisas. Ainda sim não é uma realidade distante. Decidi levar ela pra passear nessa manhã, quem sabe fazer ela nadar. Andei num ritmo bem tranquilo, parecia que ela estava com dificuldade pra descer aquele morro íngreme de paralelepípedos. Mas ao descer lá de novo, no que deveria ter se passado anos desde a última vez, ela reconheceu muito bem, e foi direto pra entrada do mato pro tancão, entrada que continuava a mesma. Ela brincou bastante naquela bica, não conseguiu evitar de pisar lá na água como sempre gostou, até que escorregou num mato alto e caiu numa parte baixa do riacho. Ficou presa lá por alguns minutos, se cansou bastante. Depois de recuperar o fôlego, mostrei um caminho pra ela.
Isso tudo me deixou receoso quanto à ela nadar, porque seria bem difícil e ela já parecia cansada. Deixei ela na beirada por um tempo, rolando na grama. Parecia que ela não estava muito interessada. Estava angustiado com a sensação de agora ou nunca, porque sei que fazia anos que ela não nadava, e que cada dia que passava era menos provável. Inclusive, não sei se foi a última mas acho que pensar nisso é remoer demais. A sensação de culpa e de aproveitamento misturados com o receio e medo (medo, inclusive, de talvez ter que pular na água pra pegar ela) foram fortes. Mas desci do barranquinho e mostrei o caminho pra ela, que demonstrou querer descer. Fui apoiando ela conforme ela descia, e o que me deixou muito contente foi que ela pareceu aceitar bem a ajuda, porque mesmo tendo afeto ela costuma ser muito arrisca com isso. Não quis voltar pra trás, e continuou seguindo em frente com minhas mãos caso ela perdesse o apoio. Não senti pena, me senti bem por conseguir cuidar dela. Ela mergulhou até o peito e ficou andando por lá, passeando. Quando ela mordeu um pedaço de galho flutuante, percebi que ela estava aproveitando tanto como eu queria. Joguei uns pedaços de madeira na agua e ela adorou correr atrás. Esse momento durou bastante, mas não tem muito o que falar.
Na hora de voltar, achei melhor carregar ela pra subir o barranquinho. Cheguei perto de deslizar, mas a safira também entendeu e ficou tranquila. Voltamos devagarinho com muitas pausas, eu não sei se ela precisava de todas, mas eu sim. Dei um banho nela depois.
Já que mencionei o zuli lá em cima, me toquei que pode ser muito importante falar dele agora. Acho que em poucas semanas ele completa 1 ano. O que passou muito rápido, mas já foi muito bem aproveitado, ele é muito energético, apaixonado, afetuoso e descobre bastante coisas novas. Meu maior medo é que ele se machuque no telhado ou lá fora, coisa que ele insiste em fazer mesmo depois de castrado. Tenho pensamentos violentos de coisas acontecendo com ele, que eu espero que parem.
Dissociei e fiquei umas 3h fora do documento agora não sei mais voltar!
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