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Senta, que lá vem história...
Querida Iasmin, como anda esse coração? Olha que incrível, você é médica agora (ou está quase lá)! Esta carta será uma retrospectiva da sua jornada cheia de referências musicais até o começo da faculdade, pois trate logo de arranjar tempo para uma carta-resposta para quem sabe daqui a mais 6 anos?
Então, vamos lá... sempre fui uma montanha-russa de emoções, então para expressar meu ensino fundamental, que tal as seguintes músicas da Avril Lavigne: Wish You Were Here e What the Hell? Não quero escrever muito sobre isso. Não estou afim. Mas esse ciclo da minha vida terminou na minha formatura com a música Give Your Heart a Break, da Demi Lovato. 2015 foi o auge da minha vida. Era estudiosa e me divertia muito mesmo com as minhas amigas. Tinha uma agenda cheia, era bem legal. Fazia curso de inglês, oficina de pintura em tela, preparatório Dona Dalva... Consegui ser aprovada no IFF e no CAp. Nessas férias de final de ano estava com grandes expectativas. Escutei muito Radioactive, da banda Imagine Dragons.
Infelizmente, me frustrei. O Ensino Médio não foi como esperava. Não tinha tantas amizades assim e muitas das vezes me sentia deixada de lado. Se 2016 foi meio mal (Fire Escape - Foster the People), 2017 piorou de forma bem intensa (Asleep - The Smiths). Nesses anos, fui cada vez mais e mais escutando música. Pior eu ficava, mais música escutava. Me faz bem... Cage the Elephant foi meu amorzinho (escuta aí: Cigarette Daydreams). Apesar disso, cheguei a acreditar em 2018 que as coisas haviam melhorado (Mardy Bum - Arctic Monkeys). Novamente uma ilusão do fim doutro ciclo. Uma ilusão das boas, devo dizer, pois fechei a formatura com Firework, da Katy Perry.
[Secret for the Mad - Dodie] No ano seguinte, em 2019, comecei o pré-vestibular. Foi o pior ano da minha vida. Foi horrível, horrível, horrível, horrível, horrível... Não reviveria esse ano por nada nesse mundo, caso contrário, seria negar o que aconteceu. Tudo estava errado, tudo! Não havia nada que estivesse minimamente tranquilo. O errado era intenso e generalizado. Mas aulas da Mônica eram incríveis e os abraços do Erick acalentadores, disso nunca irei me esquecer. Poderia escrever muito sobre isso, mas não acho que deveria. Vale a pena dizer, no entanto, que as músicas da Dodie que foram minha incrível descoberta. Escute também Human (ft. Jon Cozart) no YouTube, que a vibe da época será bem transmitida. Agora, para ter noção de como estavam meus pensamentos escute Vivaldi: Violin Concerto in G Minor, RV 315 "L'estate" (No. 2 from "II cimento dell'armonia e dell'inventione", Op. 8): III. Presto. É desesperador.
[Cello Suite No. 6 in D Major, BWV 1012: I. Prélude] O que importa, é que isso passou... lembra de quando você foi aprovada na faculdade? Meu Deus, o que foi aquilo! O resultado do SISU atrasou, só saiu umas seis da tarde. Quando abri o site, fui logo ver a lista da UFAL, que era minha primeira opção e então.... meu nome não estava lá. Foi como se eu estivesse encarando a morte. Num instante passou um filme na minha cabeça de como nada podia dar certo. Não retornaria àquele cursinho, mas também ir pro Rio estudar seria loucura. Não teria como dar certo. Não teria como dar certo. Não teria como dar certo. Estava confiante que passaria para Maceió, então na minha segunda opção escolhi São Luís mesmo com a minha nota abaixo da de corte, pois gostei da cidade e da faculdade. Tinha várias outras opções mais seguras, mas arrisquei. Nem acho que fiquei triste naquele momento, mas com ódio mesmo, ódio de ter feito uma escolha tão incoerente. Agi na emoção e esqueci de analisar racionalmente. A certeza de que tinha estragado tudo era... Certo, mesmo com a convicção de que se não rolou na primeira opção também não rolaria na segunda, fui olhar a lista da UFMA. Quando vi meu nome, não acreditei. Tirei print da tela logo, pois vai que meu nome some? Eu olhava e olhava e olhava para a tela do celular. Caramba! Eu consegui! Outro filme passou na minha cabeça nesse momento, mas dessa vez não estava encarando a morte. Em momento algum pensei em ahh, nossa, como valeu a pena ter passado por tudo que passei... NÃO! Jamais diria isso. Nada paga o desespero que senti. Mas naquele momento "assisti de longe", em meus pensamentos, todo o meu sofrimento. Tudo aquilo. Tudo. Foi como se, de repente, o peso do mundo fosse tirado das minhas costas. Uma mente cheia, que grita e se contorce e se arrepende e chora, de uma hora para outra, fica em silêncio.
Tomei um banho. Lavei o cabelo. Estava feliz. Não gritei, berrei ou pulei de alegria. Estava feliz, sim. Lágrimas caíram dos meus olhos no silêncio. Meu Deus! Não conseguia parar de olhar meu nome naquela lista. O medo da página atualizar e ele sumir dali era grande, tá? Ainda que feliz, vez ou outra era assombrada por algo do passado. Apesar das alegrias, ainda tinha tristeza em mim.
Poucos dias depois, fui pra São Luís fazer minha matrícula. Isso aí é outra história pra ser contada... Na fila que foi formada mal conseguia ficar em pé, de tanto nervosismo. Sentei no chão mesmo e aguardei. Quando chegou minha vez e fui entregar meus documentos, notei que os funcionários que estavam naquelas mesas pareciam que nem leram o edital, inventavam que tudo meu estava errado! Foi só eu dizer que o curso era Medicina que já surgiu uma mulher, imagino que fosse a supervisora, dizendo meio agressiva e irritada que tinha um monte de fraudador de cota. Ai meu coração! "Moça, fiz nada de errado não, moça. Por favor, faz isso comigo não, moça." Era só o que eu pensava... Minha mão já estava suando, meu coração batendo forte e nem conseguia mais manter minha coluna ereta. Tinham levado meu Certificado de Conclusão do Ensino Médio ou meu Histórico Escolar para não sei aonde acho que para conferir num computador se a minha escola realmente existia e assim comprovar que vim de um instituição pública de ensino. E o medo de sumirem com meus documentos e nunca mais voltarem? Já estava me imaginando voltando pra casa sem ter feito minha matrícula, derramando lágrimas e soluçando no avião, sem conseguir pronunciar uma palavra sequer. Estava aterrorizada. Bom, por fim, deu tudo certo e tentei assinar meu nome naquele papel disfarçando a minha mão que há pouco tremia por entre minhas vestes. Saí de lá com meu comprovante de matrícula, ainda não recuperada do susto, só pra constar, e fui junto com meu pai, caçar um lugar para morar.
Nesse meio tempo entre a matrícula e a mudança para o Maranhão, apesar de muito feliz, também estava um pouco assombrada. Acabei não participando da paródia que os calouros sempre fazem, nem tirei uma foto bizarra, não tinha como eu fazer isso. Também não vendi rifa alguma e tampouco contribui com a arrecadação de alimentos e materiais de higiene. Me senti um pouco inútil para a minha equipe (Botulismo). Ok. Vida que segue, pelo menos doei sangue. Mudança concluída em pleno Carnaval de 2020. Eis que começa a Semana do Calouro. Foi muito legal mesmo, embora não em sua integralidade. No segundo dia já tinha chorado no colchão do CAMAR pois tinha muita coisa ruim passando pela minha cabeça, por tudo que já me aconteceu. Depois do almoço teve aquela palestra com o Erick, na época acho que R2 em Psiquiatria. Tive de me segurar muito ali para não desabar. Não resisti e fiz umas expressões faciais de desespero. Talvez tenha sido notada. No geral, teve a prova do biscoito, a prova da melancia, uma prova de puxar uma linha com a língua (hehehehehe), um quiz, fizemos polichinelo e também formamos um trenzinho na praça em frente ao ILA! :) Agora, de volta ao segundo dia, mais tarde foi o Batizado. Aproveitei a carona disponível com alguma pessoa aí e fui direto para a casa de um segundo sujeito em algum lugar da cidade. Tomei mais Maria Joana do que devia, teve uns jogos etílicos também, comprei minha blusa da Matraca, dancei, conversei com pessoas novas, pulamos na piscina... foi só alegria. [Light of Love - Florence + The Machine] Exceto pelo fato de que quando comecei a conversar com Elder, que só fui conhecer na festa mesmo, sobre a vida antes da gente entrar pra UFMA, comecei a chorar novamente. E isso não foi alegria. Sofia e Carim me viram assim também, mas ela foi fofa comigo e tentou me consolar. Quase beijei um, mas não gostei da forma como fui abordada. Um pouco mais bêbada, acabei ficando com outro. Mais tarde dei PT. Fui arrastada pra casa. Ainda bem que a Dona Domingas nem ninguém da minha família ficou sabendo, ora pois! Tempo que passa, fomos para o sinal pedir dinheiro. Nunca me imaginei pintada, vestindo meu jaleco, implorando por uma moedinha nas ruas de São Luís. Mas não é que fiz isso?? E foi divertido, como foi! Fizemos trenzinho por lá também e caramba... apesar de todas as intercorrências tudo foi tudo muito especial para mim.
[Hey Look Ma, I Made It - Panic! At The Disco] Agora, inspira fundo, que tem mais. A Cerimônia do Jaleco foi muito significativa pra mim. Fiquei um pouco triste que minha família não pôde ficar para assistir, mas certamente foi um marco nesse start da minha vida acadêmica. Meu deus! Estou na faculdade de medicina! É federal! É meu sonho sendo realizado! Foi um momento memorável.
[Two Fingers - Jake Bugg] Dali a alguns dias, foi a Cabanagem, a calourada, de fato, da turma 111. Dessa vez só bebi São Brás, esse vinho é uma delícia, sio! Conheci pessoas novas, troquei uns fluidos corporais e dancei também. Chego bêbada em casa, na madrugada, e a primeira coisa que faço é me inscrever no seletivo da bateria Matraca. Acho que escrevi algumas coisas naquele formulário que não deveria, oxiiiiii. Não fui chamada, mas espero um dia poder participar. Quem sabe não tento jogar vôlei também? A próxima semana estava cheia de coisas bacanas para acontecer: aula de yoga, meditação, apresentação de várias ligas acadêmicas e a primeira anamnese na UBS de Bacanga... As aulas foram suspensas, a pandemia foi decretada e ahh, a quarentena: nossa nova realidade. Já faz cinco meses que estou esperando os trinta dias acabarem...
Só nesse curto período de tempo, duas semanas para ser mais específica, comecei a dar uma surtada. Como essa é uma carta para o final da faculdade, minhas impressões da pandemia ficam para uma carta à parte.
[We Are The Champions - Queen] Essa daí sou eu aos 19 anos. Tu já fizeste 25, mulher? O que tem de diferente em você? Sua aparência, personalidade, preferências... continuam as mesmas? Espero que não, pois mudar faz bem. Acredito que os anos que estão por vir serão os melhores da minha vida! Ainda não sou, mas me vejo como uma futura matraqueira. hehehehe Espero fazer grandes amizades na faculdade e ter disciplina e responsabilidade nos estudos, mas também meter a louca nas festas e curtir muitos Intermeds. Daqui pra frente, tome cuidado com o vazio de uma vida ocupada demais, ouviu? Tenha equilíbrio. Abrace sua impotência, mulher. Você é médica, mas mais que isso, você é humana. Minhas expectativas para até o final do curso certamente inclui muito sofrimento, noites mal dormidas, provas que irão acabar comigo, mas também acredito que serei capaz de superar cada empecilho no meu caminho como jamais fui capaz, acredito que vou ter amigos me apoiando, acredito que vou conseguir. Espero muito mesmo que você também esteja lendo seus livros, se exercitando e comendo bem hein, moça. Se não, trate já de mudar isso. E agora, pra onde tu vais? Que caminho seguir? Me conta na próxima carta. Independente do que acontecer, sei que se tiver paz no seu coração, terás paz onde quer que esteja. Eu tenho orgulho de você. Tenha orgulho de mim também, pois sem mim você não seria você e sei que se formar em Medicina na UFMA, meu irmão, é motivo para uma felicidade sem tamanho! Pode botar We Are The Champions pra tocar, bb, que você merece!
Ósculos e amplexos através do tempo,
Iasmin Dutra de Almeida aos 19 anos.
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Ah! Feliz Natal e um bom ano novo!
~ carpe diem ~ sapere aude ~
P.S.1: Essa carta já estava escrita há um tempo nos meus rascunhos do gmail, mas só mandei hoje pelo FutureMe. Então, sim, tinha 19 quando escrevi, embora só esteja enviando aos 20 anos hehehe
P.S.2: Depois de digerir essa longa carta, solta a playlist para um pouco de nostalgia e alegria:
Mas, o que é fazer medicina? (https://www.youtube.com/watch?v=r-_bGJaX5qA&list=WL&index=8&t=0s)
Ah, a Medicina... (https://www.youtube.com/watch?v=hezRo0KiDhU&list=WL&index=9&t=0s)
Coisas que você deve saber antes de entrar na faculdade... (https://www.youtube.com/watch?v=_h0BCjdVHtM&list=WL&index=7&t=0s)
Amedicina - Banda Arritmia (https://www.youtube.com/watch?v=TqT0r_n8VZk&list=WL&index=6&t=0s)
All These Things That I've Done - The *******
Best Day Of My Life - American Authors
I Gotta Feeling - Black Eyed Peas
Mambo No. 5 (a Little Bit of...) - Lou Bega
Welcome to Your Life - Grouplove
Hey Ya! - OutKast
Hooked on a Feeling - Blue Swede
Tubthumping - Chumbawamba
I'm A Believer - Smash Mouth
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