A letter from September 25th, 2020

Time Travelled — almost 5 years

Peaceful right?

Botucatu, 24 de setembro de 2020. Estimada Diane do futuro É provável que quando você receber essa carta nem lembre que ela foi enviada. Afinal, ela foi escrita em 2020, certamente o pior ano que já vivi. A ideia de me auto destinar esse texto por e-mail veio como uma forma de compensar a impossibilidade da confecção de uma cápsula do tempo, trabalho que eu faria com os alunos dos ****** anos do SESI. Obviamente você recorda da “quarentena” que foi aconselhada para proteger a saúde de todos contra a COVID-19. É certo que você também recorda a razão de colocar aspas, afinal você se encheu de desesperança com a falta de respeito, negacionismo e egoísmo de boa parte dos brasileiros e pessoas no mundo todo. Chegamos a ouvir que vidas de idosos não importam, pessoas vão à bares, shoppings, praias...e an*** sem máscara pelas ruas, ofendendo-se quando orientadas a colocarem-na. O senso de coletivo já não existe mais e a maioria das pessoas é incapaz de compreender que o direito individual nunca pode ultrapassar o coletivo, ainda mais quando se trata de saúde pública! Vivemos uma pandemia muito parecida com aquela que ocorreu em 1918. Para minha surpresa, as pessoas se baseiam em notícias falsas e não acreditam na ciência. No entanto, não surpreende que não apren*** com o passado... É patético ver que exatamente (repito: exatamente) os mesmos erros da Gripe Espanhola estejam sendo cometidos. As pessoas debocham da morte, os nomes das vítimas não importam e os números não impressionam mais. Já são seis meses trancada em casa, só resolvo coisas na rua quando não há outro jeito. São mais de 4 milhões de contaminados no país e mais de 130 mil mortos (isso porque há subnotificação). Morrem mais de mil pessoas por dia só no Brasil e todo dia recebo notícia de alguém conhecido que faleceu. Mas as pessoas simplesmente estão se lixando! Somos uma tragédia mundial, só perdendo para os EUA. Os negros e pobres, obviamente estão entre as maiores vítimas. No mundo, são quase 30 milhões de casos e quase 1 milhão de mortos! Mas as pessoas não têm respeito pelas famílias dos falecidos nem pelos idosos. Os profissionais de saúde, além de estarem trabalhando em condições degradantes, são ainda xingados e agredidos por aqueles que perderam a capacidade de pensar e amar o próximo. Estamos dando aula virtualmente e passamos muito mais tempo trabalhando. A maioria dos professores que conheço, inclusive eu, estão entristecidos. Os alunos não ligam a câmera, mal nos respondem e boa parte deles sequer realiza o que é proposto. Para minha surpresa, há pais que estimulam seus filhos a esse comportamento desrespeitoso. Nas redes sociais nos chamam de vagabundos e preguiçosos (isso porque trabalhamos TODOS os dias em torno de 12 horas). Discute-se o retorno das aulas presenciais e os argumentos na imprensa são sempre sobre economia. Ninguém ouve os professores que são aqueles que realmente conhecem a situação da educação. Brinco que todo mundo se mete no nosso trabalho: pais, alunos, políticos e burocratas, todos querem nos ensinar o ofício da educação. Seria cômico se não fosse trágico. Além da crise sanitária, o Brasil vive uma crise política e ecológica sem precedentes e a economia está definhando. A situação é tão dramática que nem posso escrever aqui o que realmente penso já que lerei esta carta para meus alunos que têm imensa dificuldade com esse gênero textual e posso ser mal interpretada. Hoje em dia, qualquer crítica ou opinião é perigosa e nos colocam na mira de agressões verbais e físicas sem sentido. Certamente alguém dirá que meu texto é mentiroso e que não sei do que estou falando. No entanto, a carta será enviada para mim e ainda há liberdade de expressão e pensamento, embora boa parte dos brasileiros compreenda que isso significa perseguir pessoas e julgar quem deve viver ou morrer. Como o tempo está veloz, muita coisa pode ter acontecido e espero que em 2027, quando completarei 50 anos, eu seja tratada com dignidade e não seja violentada por ser mulher, velha, professora e historiadora. É provável que eu escreva uma outra carta com maiores detalhes da minha vida particular já que esta será usada pedagogicamente. Espero que eu/você esteja bem, saudável e feliz. Espero também que as pessoas voltem a amar. Como disse o Criolo: “As pessoas não são más, elas só estão perdidas!”. Sinta meu abraço do passado na esperança de que o Amor nos conduza e ilumine cada vez mais. Diane de 2020

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