Clarice, essa é a quarta carta que inicio para responder a sua,
ainda ontem me lembrei muito de você, porque um americano
me perguntou se meu relógio era suíço.
A suíça existe mesmo?
Daqui de Nova Iorque não posso te contar nada além do que
você calcula.
Tenho sentido muita falta do seu livro, que deixei no Brasil
para plagiar uns pedaços quando vou escrever o meu.
Tenho tido muitas dores de cabeça,
tenho tido muitos pesadelos, tenho tido muito pouco dinheiro,
tenho tido muitas oportunidades de ficar calado,
tenho tido muitas decepções com os correios, tenho tido
cansaço, saudade, calma. Tenho bebido muito, muito, muito.
Tenho lido os suplementos dominicais,
tenho sentido vontade de voltar,
tenho xingado muito o Getúlio,
Tenho tido muito medo de morrer.
Tenho tido muita pena da Helena por ter se casado
comigo. Tenho tido muita vontade de voltar a brincar
Clarice,
eu 'tô perdido no meio de tantos particípios passados.
Eu tô com vontade de fumar, e meu cigarro acabou.
Eu 'tô com vontade de namorar de tarde
em uma pracinha cheia de árvores
E só de pensar que você 'tá lendo essa carta
muitos dias depois de eu ter escrito
me da vontade de nem mandar, mas eu mando.
Me escreva. Te responderei imediatamente.
Como vai seu livro? O que você faz as três da tarde?
Eu quero saber de tudo, tudo.
Me escreva uma carta de sete páginas, Clarice.
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