A redação de Artes (OLembra? O Cleiton que pediu no primeiro ano)

Time Travelled — about 3 years

Peaceful right?

Tenho que parar de me procurar, pois estou começando a me achar perdida em mim mesma. Não sei não ser confusa. Não sei não ser poesia. Não sei não ser tão eu, e no entanto, também não sei quem sou. É alívio, e horror, poder desabafar isso. Desculpe, espero que entenda, mas não seria eu se não fosse tão incerto e confuso. Às vezes sinto que estou mergulhada num mar, as vezes sinto que sou o próprio mar. Turbulência, incerteza de que a sobrevivência será garantida, um eterno transtorno. É um transtorno viver. Somos atropelados a toda hora, tropeçamos com as milhares de pedras que encontramos nesta estrada finita, e certamente vestimos nossa armadura em diversos momentos para nos protegermos. Eu não entendo de tempo. Ele é ilusório para mim. Não existe, mas nós implantamos ele em nossas mentes. Sendo assim, não sei quanto tempo terei. Também não desejo saber. A única coisa que me convêm, no momento, é ter a liberdade de dizer "eu sou eu, e eu pode significar muitas coisas". Eu me lembro de certa vez em que a professora eventual me perguntou quem eu era, e minha resposta, eu sabia, seria extremamente insatisfatória a ela, mas fiz questão de dizer: - Eu sou muitas coisas, como posso não ser nada. Isso depende de quem olha, e por onde olha. Posso ser a menina amiga, menina irritante, menina nerd, menina ingênua, menina poeta de desamores. Tanto faz. No mundo existem dois tipos de pessoa: o eu, e o você. Você pode ser um eu, mas o eu não pode ser um você. Ela com certeza não gostou da resposta, e ainda acho que anotou um -1 em comportamento. Não importa muito, não poderia ser dito outra coisa. As vezes me autorizo a pensar que sou como um conjunto infinito de palavras que eu mesma guardei. Para os poetas, para os escritores e para mais aqueles que se permitem ser audaciosos para com as palavras, isso é o que somos, isso é o que temos. Eu sempre quis saber como é amar e ser amada de volta. Mas sou poeta de desamores, de vivências, e não de contos de fadas. No meu mundo, ainda não me ocorreu esta experiência. Talvez ocorra algum dia, quem sabe? Certa vez escrevi a seguinte poesia, baseada numa das conversas mais insanas e bonitas que já tive: Aquela moça... Ela morreu de amor E em seu coração guardava A caixinha de lembranças De amores passados. Foi seu moço que encontrou E levou pra casa E pela primeira vez amou As histórias que seu coração guardava. Todo dia passava lá perto do Zé Onde havia encontrado a moça paralisada No chão da desesperança No meio do nada. Ele gostava de achar Que talvez um dia A moça voltasse Pra preencher-te o coração vazio E ele preencher O vácuo que ali estava No coração tão cheio De amores guardados. E a cada dia que se passava Relia os amores de sua amada: Havia um Thiago, um Matheus, um Guilherme E o mais amado, aquele de quem ele tinha inveja Por ter o amor da moça eternamente Seu nome não importava, ele também havia partido. Às vezes seu moço desejava Do fundo daquilo que chamam de alma Que a moça que só conhecia pela caixinha de histórias Nunca tivesse se esvaído no tempo. Um pensamento que me conforta é que o amor é uma das únicas coisas que podemos ter para nós mesmos. Os amores podem passar, mas o sentimento verdadeiro prevalece. Nando Reis ainda ama Cássia Eller, tenha acontecido algo mais entre eles ou não. O amor não precisa de permissão, ele invade nossa alma e a preenche com maravilha e horror ao mesmo tempo. Valorizamos tanto as histórias do outro, que esquecemos da beleza que as nossas possuem. A vida não é amarga, ela é uma eterna criança que só quer brincar com a gente. Mas ela fica enfurecida se não brincamos junto, e eu não sabia disso. Ninguém me avisou. Foi assim que surgiu uma história de amor, que se fosse contada e reproduzida, poderia ser tão boa quanto as histórias que lemos nos livros ou assistimos nos filmes. Mas o que a torna tão especial para mim é que ela é minha, e de mais ninguém. Amar sozinho pode ser uma das maiores dores da vida, e não poderia ser diferente. Mas, quem ama de verdade, deixa ir, liberta, não prende. Amar é poder partir e ficar, mas eu amava sozinha, por isso essa história se foi junto com ele. Permaneci no meu cais, vendo a maré levar ele para longe. Parti, e no entanto, permaneci no mesmo lugar. Foi neste espírito de escrevi o seguinte texto: "Menina coruja caminhava cuidadosamente, como se tentasse tornar cada decisão a mais correta possível. Na verdade, isso era uma tarefa quase impossível se você mudasse o ângulo da história. Menina coruja tentava olhar para todos os ângulos possíveis, tomando cuidado para não dar passos em falso. Falhar. Ela não se permitia fazer isso. Menino coruja não sabia de sua partida. Era tudo uma questão de tempo, pensava. Mas quando o tempo foi-se aumentando, pôde perceber que não se pode voltar atrás. Era mais fácil, consolava, dizer adeus quando meio pé já está do lado de fora. Menina coruja não poderia estar mais perdida. Mas assim como ele, ela sabia que o passado era irreversível. Escolhia agora, com cuidado, a história que seu futuro carregaria quando se tornasse passado. O fato era que, para menina coruja, o tempo era, depois da mente humana, a segunda coisa mais fácil de ser manipulada. Tempo? Isso existe?, pensava ela. Mas sabia que por trás da simplicidade, haviam as armadilhas, das quais menina coruja fugia. Menino coruja também escolhia seu destino. Largou o emprego que tanto o afundava, como se o trabalho fosse o mar e ele apenas o vestígio de algum naufrágio. Ele odiava o mar, foi por isso que buscou por terra firme. As coisas não eram mais fáceis, mas menino coruja, como se fosse um grande sábio, conhecia bem a vida: estar 100% é sinônimo de estar morto. Menina coruja lutava contra a ventania. O que se faz quando tudo lhe impede de ter uma vida? Ela tinha duas opções: se largava, e deixava o vento indomável a conduzir, ou se abraçava, dando-lhe alguma força para continuar. O problema é que nem mesmo menina coruja sabia da onde tirava essa força: a única coisa que a ventania deixou para ela era si mesma. Menino coruja apareceu quando ela estava se preparando para partir. Não tinha motivos para ficar, sentia que era o próprio mar, que afundava tudo que nele entrava. Menino coruja navegava. Não tinha medo de estar lá, e pela primeira vez, menina coruja sentia que não era diferente, que poderia, afinal, não ser apenas culpa e fardo. Menina coruja foi ficando, atrasou sua partida, acolheu seu navegante. Queria ajudar, queria guiar, queria deixar ficar. Os outros mares não entendiam. Parecia que haviam sido feitos para afundá-lo, para fazer menino coruja se esvair em meio ao transtorno. Ela não conseguia deixar que o fizessem. Menino coruja sumia, e estes eram momentos de grande tribulação para menina coruja. Ele tinha seus próprios mares internos, brigando para ver quem seria o oceano rei. Menino coruja lutava todos os dias, tentando controlar seus mares, dizendo-lhes que não se revoltassem contra ele. Menina coruja entendia. Observava ele desembarcar em terras firmes, deixava ir, porque também precisava partir. Menina coruja não podia dizer isso. Precisava ter certeza, pelo menos dentro de si, que menino coruja havia chegado ao destino certo. Precisava, e desejava com todas as suas forças, que menino coruja encontra-se a terra certa para acolhe-lo. Menina coruja era mar, e menino coruja não podia ficar no mar. Ela não queria que ele afundasse enquanto navegava. Menino coruja a prendia em sua terra firme interna. A partida, ele sabia, não estava tão distante assim. Menino coruja não prendia, libertava, mas ao mesmo tempo, menina coruja não conseguia ir embora. Sabia ser a decisão certa, o passo a ser dado, mas nunca sentia que menino coruja havia chegado ao porto certo. Menina coruja sabia que a partida estava próxima, quer ela autorização ou não. Menina coruja queria continuar ali, mas a ventania lhe atirava vestígios do que um dia haviam sido objetos concretos. Menina coruja se feria. Ela queria estar 100%, e isso significava ir embora sem poder voltar. Menina coruja não sabia o que fazer. Menino coruja fez ficar. Não queria ver menina coruja partir. Pediu, sem prender, e ela ficou. Menino coruja nunca havia visto mar chorar, e ela não quis proporciona-lhe esta experiência. Ficou, sabendo que partir era preciso. Esperou, até que a ventania lhe ferisse por inteiro." Talvez não entenda de fato, ainda não sei como achei alguém que entendeu o significado de cada palavra deste texto, mas ele faz parte de mim. Perguntaram-me certa vez como eu me imaginava no futuro. Eis a descrição: uma tiazinha vivendo numa casa simples, com quintal de terra para ela por um balanço e colher mexerica, um gato preto para lhe fazer companhia, e a maquina de escrever para preencher-lhe as tardes. Me perguntaram se eu não pensava em me casar e ter filhos, trabalhar numa grande empresa e ser "alguém na vida". Eu nunca soube o que isso queria dizer. Se puder, por favor, me responda depois o que é ser alguém na vida, que eu ainda não entendi. É trabalhar feito escravo e gastar todo o tempo para ganhar dinheiro e mascarar uma vida infeliz? Quanto a casar, já amei demais e isso me preenche, mesmo que nunca tenha sido correspondido. Adotaria uma menina se quisesse, para ensinar um pouco do que finjo saber sobre a vida. Estaria bom, me satisfaria. Não tenho ambições, e não quero tornar um mundo um lugar pior do que já está. Quero fazer trabalhos voluntários em hospitais, por um sorriso no rosto de alguma criança passando por um dia ruim. Quero fazer medicina, ou psicologia, e ajudar as pessoas o máximo possível. Mas também quero escrever, porque paixão maior nunca tive. Quero viver num mundo onde eu possa ser eu, mesmo que eu ainda não saiba o que isso significa, sem ser julgada. Julgar o outro sem conhecer é no mínimo uma falta de respeito. Não gosto de preconceitos, e me atrevo a dizer que não tenho nenhum, embora saiba que o fato de dizer isso já é um preconceito. Perguntei para algumas pessoas quem eu era, e poucas me responderam de maneira satisfatória. O satisfatório não quer dizer elogios para mim. Sou uma pessoa desagradável, que gosta de ser desagradável. Gosto de ajudar os outros, mas não gosto de ser ajudada e isso é sim uma grande contradição. Sei que tenho algum medo, mas ainda não o descobri. Prefiro ler do que assistir. Gosto de pintar, embora seja horrível, me leva a um estado de controle e paz. Não sei definir preferências, e a única coisa que posso dizer de "esse é o meu favorito" é em relação ao livro do Rodrigo Lacerda. Geralmente não abro minha boca para falar, pois sou tímida e minha sinceridade é ácida, fria e crua. Como já disse antes, posso ser muitas coisas, como também posso não ser nada. Eu posso ser doce, posso ser amarga, e para mim isso não importa. Sinto muito. Estragar as impressões que as pessoas tem sobre mim é um dom meu. Sei que talvez essa redação não tenha sido satisfatória para o senhor, mas gastei um bom tempo e uma grande quantidade de páginas e de palavras tentando escrevê-la, e no final, refiz milhares de palavras porque sou falha e errônea, e minha escrita é imperfeita. Talvez não tenha correspondido as suas expectativas, e eu poderia ganhar mais algumas duas mil palavras contando histórias intermináveis sobre mim, mas não creio que seja relevante. Fiz o que pude, escrevi cerca de, no mínimo, 6 redações diferentes, e esta veio logo após um dia inteiro de escrita. Esta me veio como final, embora não tenha juntado as palavras das redações anteriores com estas. Antes do conhecimento vem a ignorância. Terei o prazer de escrever algo melhor quando te fato descobrir quem sou, mas até lá, tem muito mar pela frente.

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